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Moradores relembram desespero em incêndio com cinco mortos em comunidade no Recife: 'Saí correndo nua, o fogo já vinha'

Documentos perdidos no incêndio serão reemitidos, diz secretário Marco Aurélio Sobreviventes do incêndio que atingiu 20 das 30 casas na comunidade Icauã, ...

Moradores relembram desespero em incêndio com cinco mortos em comunidade no Recife: 'Saí correndo nua, o fogo já vinha'
Moradores relembram desespero em incêndio com cinco mortos em comunidade no Recife: 'Saí correndo nua, o fogo já vinha' (Foto: Reprodução)

Documentos perdidos no incêndio serão reemitidos, diz secretário Marco Aurélio Sobreviventes do incêndio que atingiu 20 das 30 casas na comunidade Icauã, no bairro da Caxangá, na Zona Oeste do Recife, no sábado (29), relembram o desespero com as chamas se espalhando rapidamente. Cinco pessoas da mesma família morreram no local: Isabele Gomes de Macedo, de 40 anos, e seus quatro filhos, com idade entre 1 e 7 anos, que foram enterrados sob forte comoção de parentes e amigos na segunda-feira (2). "Eu fechei o barraco e fui tomar o meu banho, aí eu senti aquela quentura. (...) Eu saí correndo nua, o fogo já vinha ali perto. Foi minha mãe quem gritou", disse ao g1 Cristiana da Silva, que perdeu tudo que tinha no incêndio. O suspeito de ter provocado esse incêndio é Aguinaldo José Alves, companheiro de Isabele e pai de Aline, de 7 anos; Adriel, de 4; Aguinaldo, de 3; Ariel, de 1 ano. Ele teve a prisão em flagrante convertida em prisão preventiva durante audiência de custódia e foi levado para o Centro de Observação Criminológica e Triagem (Cotel), em Abreu e Lima, no Grande Recife. ✅ Receba no WhatsApp as notícias do g1 PE A comunidade existe há oito anos e é uma ocupação do Movimento Urbano dos Trabalhadores Sem-Teto (Must). O coordenador do Must, Carlos Vieira, disse que o incêndio foi uma tragédia. "Nesse período de oito anos, acontece essa fatalidade, tragédia familiar. (...) Tem 20 famílias aí sem uma moradia, só o terreno agora, ainda com sonhos aí para conquistar. Não é fácil você perder uma coisa que você construiu. As crianças [vítimas do incêndio] nasceram todas aqui dentro dessa ocupação", contou Carlos. A Must está promovendo uma campanha para arrecadar materiais de construção, alimentos, produtos de higiene e outros donativos para as famílias que residem no local. "A gente está se sensibilizando, está se juntando e fazendo a resistência para, na mesma terra onde a gente perdeu agora a moradia, reconstruir de novo. Só ficam as saudades, o pensamento horrível que a gente viu aqui da tragédia", afirmou Carlos. Cristiana da Silva perdeu tudo no incêndio na comunidade Icauã, no Recife Iris Costa/g1 'Uma tragédia muito triste' Mãe de Cristiana da Silva, Severina Maria da Conceição, de 74 anos, também mora na comunidade. Assim como a filha, ela mora em um dos barracos atingidos pelo incêndio. "Eu perdi o ventilador, o liquidificador, uma televisão de tubo -- que eu não posso comprar outra -- um bocado de roupa, minhas panelas, que o fogo acabou com tudo. (...) Agora isso aí foi uma tragédia muito triste. Eu nunca passei por outra tragédia dessa, nunca na minha vida, isso foi demais", declarou Severina. Ela tem um neto de 30 anos que necessita de cuidados especiais. O homem mora com Cristiana, que pretendia dar entrada na aposentadoria dele, mas perdeu os documentos no incêndio. "Tudo foi queimado. Tinha identidade, CPF, registro (...) Eu não tenho renda nenhuma. Tenho um filho com 30 anos, especial, que não é aposentado. Queimaram os laudos também", disse Cristiana. Na manhã desta terça-feira (2), equipes da Prefeitura do Recife estavam no local do incêndio. A secretaria de Direitos Humanos e Juventude e o Conselho Tutelar começaram a dar entrada na emissão da segunda via de documentos e certidões de nascimento dos moradores da comunidade. Leandra Dulce, de 26 anos, mostra documentos queimados após incêndio na comunidade Icauã Iris Costa/g1 Vizinha diz que vítima estava grávida Outra moradora da comunidade, Leandra Dulce Machado da Silva, de 26 anos, tinha uma barraquinha dentro da comunidade. Ela contou ao g1 que, momentos antes de o incêndio começar, viu Aguinaldo José dormindo perto do seu comércio e depois saiu cambaleando em direção à casa onde morava. "Eu vi ele passando e ele quase que derruba as coisas da barraca. Eu disse: 'Eita, está doido, é? Presta atenção'. Aí quando eu olhei, a menina já me chamou: 'Está pegando fogo ali'. Aí quando eu cheguei lá, a fumaça preta muito grande", lembrou. Ainda segundo Leandra: os próprios moradores começaram o combate ao incêndio, usando baldes com água, mas as chamas aumentaram rapidamente; Isabele, que morreu no incêndio, era uma mulher muito tranquila e reservada; no dia do incêndio, uma agente de saúde compareceu na comunidade e informou que Isabele tinha dado início ao pré-natal; ninguém da comunidade sabia da gravidez, provavelmente porque Isabele estava com receio de algum julgamento, já que ela já tinha quatro filhos e vivia em situação de vulnerabilidade. Violência contra mulher Testemunhas contaram que Aguinaldo José e Isabele Gomes estavam discutindo antes do incêndio. À TV Globo, a faxineira Cristiane Severina da Silva contou que o homem agrediu a vítima antes de atear fogo à própria casa com os meninos dentro. A vizinha também disse que ele bateu na companheira, que foi pedir ajuda fora de casa, mas voltou para buscar o filho mais novo. Porém, quando voltou, o fogo, provocado com uso de gasolina, já estava se espalhando. O incêndio aconteceu por volta das 12h30, nas proximidades da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Caxangá. O g1 apurou que o corpo da mulher foi encontrado em um cômodo da casa enquanto os das crianças estavam em outro. VÍDEOS: mais vistos de Pernambuco nos últimos 7 dias

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